quarta-feira, 15 de junho de 2011

SAUDADE

SAUDADE
(Eugénio de Castro)

Cada uma das palavras que vais ler
Com olhos de divina claridade,
Leva-te, meu encanto, uma saudade
Mais triste do que as rolas a gemer.

Poucas, bem poucas são as que, a tremer,
Aqui te escrevo, ó toda suavidade,
Mas fossem mil, não foram nem metade
Das saudades que enturvam meu viver.

Se, arrancados, meus olhos lacrimosos
Pudessem ver os teus, tão misteriosos,
Que ao vê-los tudo em sombra se converte,

De só por ti chorarem nunca fartos,
Arrancara-os eu já, para mandar-tos,
Feliz de me achar cego para ver-te!